Estava doendo.
Meu corpo estava doendo.
Não.
Já fazia tanto tempo que não
doía
Ou
Doía num ritmo tão constante
Que eu já havia esquecido (ou
acostumado?)
Mas, agora, havia recordado
Mesmo dentro daquele mar
Afundando em meio à um abismo
Frio e escuro, puxado por
correntes
Todas as cicatrizes doíam em
conjunto,
Como há anos não faziam.
Conseguia, apesar do escuro
Enxergar cada uma delas
Umas maiores, outras menores
Algumas chamativas, outras
discretas
Algumas doíam,
Outras ardiam,
Algumas queimavam,
Mas todas estavam
cicatrizadas,
Fechadas, curadas(?).
Eu me lembrava, perfeitamente,
Como agora, quem havia feito
Cada uma delas.
Direta ou indiretamente;
Proposital ou sem querer (querendo[?])
O porquê,
O quando,
O onde,
O como.
Mas o mais curioso,
Daquelas cicatrizes que
tomavam meu corpo.
Não.
Daquelas cicatrizes que
tomavam minha alma.
Era o fato de cada uma delas,
sem, talvez, exceções
Ter sido feitas em meio à
solidão.
Apesar de, em sua maioria, ter
sido feitas
Por pessoas diferentes:
Não houve um momento que não
estive tomado
Por Solidão.
Na verdade,
Não me recordo de um único momento
Um, se quer, que não estivesse
só.
Talvez não em companhia,
Mas
Em Espírito,
Em Pensamento,
Em Reciprocidade,
Em Amizade,
Em Vida.
Nunca houve, no fim, um único
momento
Que não estivesse só.
Que não me sentisse assim.
Ou talvez, seja o contrário.
Eu sempre tive um companheiro.
Eu sempre estive acompanhado.
Afinal,
A Solidão Sempre Esteve ao Meu
Lado.