25 de fevereiro de 2013

As Correntes


Desde que chegara ali não havia percebido,
Mas estava acorrentado.
Talvez por sempre ter estado assim,
Até ali jamais havia percebido.
Sempre fora assim.
Desde sempre.
Haviam tantas correntes,
De tamanhos,
De espessuras,
De Materiais,
E até de cores diferentes.
Ele nunca notara, até então, como sempre estivera preso
Ao Ego,
Ao Medo
Às Pessoas,
À Vida,
À Família,
Aos Amigos
Ao Eu.
Ao Seu Eu.
Preso em seu próprio Mundo.
Acorrentado ao seu próprio Deus.
Sujeito a Si mesmo.
Aprisionado à sua Loucura.
Selado em sua doença.
Trancado em sua obsessão.
Acompanhado de sua escuridão.
Perseguido por suas máscaras
Mas sempre esquecido pelo seu Eu.
Suas correntes estavam com ele à tanto tempo,
Que de tão acostumado a elas já estava,
Que elas passaram a fazer parte de seu Eu.
Simplesmente estava habituado
À seu singelo tormento.
Fosse como Fosse
Aquelas eram as correntes,
As corrente que jamais o abandonaram
As correntes que sempre o acompanharam
As correntes que sustentaram o seu Eu.
Aquelas eram as correntes do seu Eu.

22 de fevereiro de 2013

O Ego


Estava me sufocando.
Estava me cegando.
Estava me perdendo.
Aquele mar era denso.
Muito denso.
Mais que a água, talvez, mais
Muito mais do que mercúrio.
Que mar Profundo.
Denso.
Sujo.
Negro.
Frio.
Não fazia ideia de como havia chegado ali.
Não estava em um abismo escuro?
Como pudera chegar ali?
Apenas me lembro de em meio a escuridão,
Ter tropeçado.
Sabe-se lá Deus em quê, mas havia tropeçado:
E caído.
Caído naquele mar denso, sem direção ou sentido.
Apenas caindo.
Caindo.
Caindo.
E
Caindo.
Não fazia ideia,
Mas à medida que ia caindo
Passava a entender.
Aquele mar infinitamente denso fazia parte de mim.
Aquilo que me desnorteava, me engolia e me perdia.
Aquilo era meu Ego(?!).
Tudo agora fazia sentido.
À medida que afundava mais e mais me acostumava.
Mais e mais eu entendia.
Aquele grande mar era o reflexo de quem eu era.
Do que ele era, aliás, do que ele se tornou.
Talvez por Medo,
Talvez por Coragem,
Talvez por Verdade,
Talvez por Mentira,
Talvez pela Verdade,
Talvez por Si.
Ou talvez pelo Outro?
Talvez por Ninguém.
Mas
Aquele mar, fosse como fosse, era a prova,
A prova de sua ilusão.
De sua fraqueza.
De seu Eu.
Do seu medo.
Medo de ser igual.
Medo de ser diferente.
Medo de ser estranho.
Medo de não ser ele.
Aquele mar era a prova
Absoluta
De suas insanas tentativas
De exercer
E continuar a ser
Seu Eu.

16 de fevereiro de 2013

Os Fatos



Quando percebi, já haviam se passados 18 anos.
18 longos anos carregados de muitos acontecimentos.
Contudo, tais acontecimentos eram fundamentalmente característicos
Haviam pessoas.
Haviam cenários.
Haviam palavras.
Haviam fatos.
Neste acontecimentos carregados, muitas vezes, de glória
Havia algo sempre que crescia
Sempre tinha o que se acrescer
Mas, na verdade, muitas vezes crescia descontroladamente
O que crescia?
O que seria?
Era, necessariamente, o eu.
O Eulírico.
O Eugênio.
O Euforismo.
O Eufemismo.
Curiosamente, o tempo passava e os acontecimentos falavam
Fazia tanto tempo, mas tanto tempo, 18 anos.
18 Longos Anos.
E mesmo assim, nada acontecia.
A natureza insana progredia.
Os caminhos, as trilhas e os trilhos se construíam.
As escolhas eram construídas e, a seu tempo, tudo se construiria.
Era curioso constatar assim e mais ainda pensar assim.
Tudo à seu tempo se construía.
Nunca se quer sonhei que pudessem haver tantos acontecimentos
Mas eles simplesmente aconteciam.
Ou talvez não.
Na verdade, com certeza não.
Não “simplesmente aconteciam”. Definitivamente não.
Cada ocorrido, cada um deles
Sempre foram muito bem calculados
Muito bem planejados
E igualmente executados.
Tantas vezes, tantas coisas ocorriam,
Mas, ainda assim, todas já ocorridas
Já vividas
Já presenciadas
Já presenciados.
Todos os fatos,
Já há muito:
Foram Manipulados.

O Silêncio

Silêncio?
Após tempo indefinido escutando vozes de todos os tons,
Escutando as mais diversas palavras; verdadeiras e mentirosas
Lembrando de cada passagem, cada momento, cada memória
Agora tudo se cala.
Não, nenhum tipo de som.
Meu coração, meus passos, minha respiração: Nada.
Notei algo que até então não havia percebido:
Meus olhos estavam fechados.
Meus ouvidos tampados.
Minha boca costurada;
Até então eu não havia notado, mas de fato:
Eu não havia falado.
Eu não havia enxergado.
E pior, eu não havia escutado.
Por mais que ouvido, falado, visto e sentido, até então,
Na realidade,
Eu estive atado.
Atado ao meu ego.
Atado ao meu eu.
Atado ao meu desequilíbrio.
Atado aos meus problemas.
Atado aos meus paradoxos.
Atado sempre "ao meu..."
Sempre eu!
Aquele silêncio representava muitas coisas.
Mas a pior, definitivamente, era aquele silêncio.
Definitivamente, representava as minhas correntes.
Mas especialmente,
Representavam as minhas mais antigas correntes:
As correntes da Solidão.

14 de fevereiro de 2013

As Memórias


Era Curioso.
Havia tanto tempo, mas tanto tempo
Que estava ali, que se quer me dei conta
De quanto tempo, realmente passara ali
Já havia sentido, e através destes, presenciei tantos momentos
Que estava em dúvida se aquele grande buraco escuro não era Meu Mundo
Tudo o que vivi,
Tudo o que presenciei
Tudo o que falei
Tudo o que escutei.
Interagi, progredi, regredi e evolui
Estavam ali
Cada uma das minhas memórias
Cada uma delas
Estavam ali
O sentimento de ter vivido, de ser vivo
O sentimento de ter existido, de existir
O sentimento de ter sentido, de sentir
O sentimento de ter nascido, de nascer
Tudo estava ali.
Cada memória,
Sensação
Gosto
Cheiro
Palavra
Fala:
Tudo.
Tudo estava ali.
E mesmo assim, por mais que ali, estava tão distante.
Tão longe.
Tão vazio.
Tão indiferente.
Tão diferente.
Será mesmo que eu vivi?
Aquele buraco escuro me trouxe rude
Me reviveu tudo.
Como se a minha vida tivesse sido vivia ali.
Por que será?
Onde será?
Como será?
O que será?
Adoraria saber.
Até quando
Você ficará.


As memórias falam. Elas gritam. Gritam por verdades. Não, gritam a verdade; relatam a mentira. Não, contam uma mentira. As memórias enganam e iludem, não a realidade, mas sim: a Realidade. As memórias contadas, faladas e narradas resultam na experiência. Não, as memórias vividas são a experiência. São a vida: a vida a ser vivida, a vida que foi vivida e a vida que se está vivendo.

Estas são suas memórias?